sexta-feira, 19 de julho de 2013

Climatinê: O Homem de Aço por Corto

por
Corto de Malta

Mais pra Homem de Ferro 3 do que pra Batman Begins.
SPOILERS ABAIXO


Em um Planeta muito distante, Krypton, o cientista Jor-El (Russel Crowe) percebe que seu mundo está prestes a entrar em colapso e envia seu filho Kal-El numa nave em direção ao Planeta Terra. Para desespero do tirânico General Zod (Michael Shannon), o bebê leva consigo em suas células o Códice, a herança genética da raça kriptoniana.


Enquanto a nave com a criança se afasta observada por sua mãe Lara, e Zod e seus homens são presos na Zona Fantasma por sua rebelião e assassinato de Jor-el, Krypton explode. Na Terra, Kal-El é adotado por Jonathan e Martha Kent (Kevin Costner e Diane Lane) e rebatizado de Clark. Ele cresce então envolvido nas descobertas e dilemas que envolvem os superpoderes que os kriptonianos desenvolvem graças ao Sol Amarelo do nosso planeta.


Já adulto, Clark (Henry Cavill) ainda busca um lugar no mundo tentando ajudar as pessoas, até encontrar uma antiga nave kriptoniana oculta no gelo do Ártico, onde consegue acionar um dispositivo que lhe permite falar com a consciência de Jor-El e onde seu caminho cruza com o da irrequieta jornalista investigadora Lois Lane. Ao mesmo tempo em que Lois descobre seu segredo, o sanguinário Zod chega a Terra e o confronto é inevitável.


Existem dois filmes diferentes aqui: o que o produtor Christopher Nolan e o roteirista David Goyer imaginaram e o que foi executado pelo diretor Zack Snyder. É até engraçado procurar descobrir quem criou o quê. As cenas da igreja e do petroleiro, por exemplo, são a cara do Goyer porque são referências visuais diretas aos quadrinhos do Superman, respectivamente Pelo Amanhã e A Morte de Clark Kent, assim como grande parte do Prólogo em Krypton lembram várias histórias retroativas passadas no planeta do Homem de Aço antes de sua explosão.


Já a estrutura narrativa não linear permeada por flashbacks na primeira  metade do longa metragem e com uma batalha contra uma ameaça do passado do protagonista na metade final, além das cenas na neve... tudo isso lembra bastante a marca do trabalho de Nolan, especialmente em Batman Begins, outra origem de outro super-herói. Mas conforme a história avança nós vamos vendo cada vez mais presente o estilo do Zack Snyder, o qual não é nem um pouco sutil.


Por exemplo, a idéia do Jor-El vencer Zod num combate corpo a corpo é o típico momento Snyder, onde ele simplesmente ignora o fato de que todos naquele planeta já nascem com aptidão e função pra algo - portanto seria impossível um cientista vencer o líder militar de Kripton na porrada - em nome de transmitir uma mensagem infantilizada pro público, de que o Superman é foda porque o pai dele era foda!


Eis aí a questão que eu citei: parece que Nolan e Goyer imaginaram O Homem de Aço como um clássico filme de extraterrestre e invasão alienígena, se valendo deliberadamente de alguns clichês do gênero cinematográfico em questão, como na ótima cena da transmissão de Zod ao mundo ou na "perseguição" de Lois a Clark. Tudo isso é bem contextualizado e encaixa perfeitamente no conflito estabelecido pela invasão que ocorre a seguir. É como um cruzamento de idéias de filmes como Contatos Imediatos de Terceiro Grau, Enigma do Outro Mundo, Independence Day com séries como Arquivo X e Taken. Embora algo semelhante tenha sido tentado com o seriado Smallville, esse filme ainda apresenta um ponto de vista criativo pro mito do Superman.



Porém, tanto Nolan quanto Goyer dominam algo que Snyder parece incapaz de compreender: escala. Podemos ver pelos trabalhos dois - seja na Trilogia Cavaleiro das Trevas ou na Trilogia Blade - que a perspectiva da narração é ponto fundamental no desenvolvimento da trama. Batman só é Batman porque Bruce Wayne consegue criar um mito para as pessoas. O Coringa só é Coringa porque compreende o mito no Batman. Blade só é Blade porque ele é uma lenda entre os próprios vampiros. E por aí vai. Tudo consiste em trabalhar o ordinário para transformá-lo em extraordinário.


Snyder, ainda que tenha um inegável senso de estética pra criar quadros bonitos, não tem paciência suficiente para desenvolver essa perspectiva do Superman e entrega uma coisa apressada, onde a metáfora religiosa presente no conceito de O Homem de Aço é apenas arranhada na execução. Mas o principal problema do cineasta ainda é não ter noção nenhuma de escala. E não entende que simplicidade e banalidade são coisas diferentes.


Ele parece tão apaixonado pelas cenas de ação que cria que não há freio que o segure (mesmo problema do Michael Bay, por sinal) banalizando assim justamente o que devia ser seu ponto forte. TUDO pra ele tem que ser extraordinário. E quando você estabelece uma escala onde tudo é extraordinário, demonstrando uma total ausência de perspectiva... você corre o sério risco de entregar um resultado onde TUDO é ordinário aos olhos do público... o que explica porque a maioria das pessoas ou amaram ou odiaram esse filme.



Se fosse só isso, mas  diretor também se mostra incapaz de trabalhar questões complexas. Existem duas cenas de morte - uma em flashback e outro no fim do filme - que poderiam ter sido muito mais bem realizadas se ele fosse cuidadoso, porque ambas são muito importantes na construção do protagonista. É difícil acreditar sobretudo na última onde uma atitude polêmica do herói contradiz sua omissão numa batalha ocorrida segundos antes.


Mas francamente, se você percebeu o impacto que isto causou no Superman isso, o mérito é muito mais de Henry Cavill, que entrega uma sincera e excelente interpretação de Clark/Superman, ainda em busca de sua própria identidade. Se unem a ele Michael Shannon que dá uma cara de vilão de video game pro Zod e Amy Adams, a qual mesmo com umas forçadas de roteiro, entrega uma ótima Lois Lane.


E sim, você acredita na relação entre o casal: ela é atraída pelo mistério que Clark é, e ele por alguém que possa tirá-lo da solidão. Mais uma vez sobressaem as idéias de Nolan/Goyer e as atuações Cavell/Adams, sendo a direção desleixada de Snyder o elo fraco da corrente.


O Homem de Aço acaba sendo muito próximo de Homem de Ferro 3. Os dois tem idéias muito boas prejudicadas por idéias estúpidas, - o que foi aquele diálogo totalmente contraditório entre o Superman e o Coronel no final?  - são rasos onde poderiam ser profundos, mas ao final acabam sendo divertidos. Uma das maiores diversões (pros fãs obviamente) termina sendo procurar os easter eggs escondidos no longa metragem, desde o rosto de Christopher Reeve até o Satélite da Wayne Enterprises.


Se este for o começo de um Universo DC nos cinemas, espero pelo menos que caprichem mais nas próximas tentativas... e que de preferência não chamem o Zack Snyder pra dirigir.

2 comentários:

TODDY disse...

Por incrivel que pareça, a resenha tá boa

Unknown disse...

Não acho que as lutas tavam tão fora de escala no sentido em que eram deuses na Terra lutando e gostei da direção do Snyder nesse e outros trabalhos- menos o filme da corujinha! Mas ótima crítica cara, mesmo eu discordando um tanto! =D

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