sexta-feira, 5 de julho de 2013

O Farol: As Crônicas de Artur - Bernard Cornwell

por
Renver
Mas o destino... é inexorável. A vida é uma brincadeira dos Deuses...e não existe justiça. Você precisa aprender a rir...ou então vai simplesmente chorar até morrer.
- O Rei do Inverno (Bernad Cornwell)

Sabe quando você adentra num universo e se liga aos personagens de um jeito que você tem medo do momento que inevitavelmente vai dizer adeus à todos eles. Nunca senti isso antes... E assim venho aqui prestar minha singela homenagem a Bernard Cornwell por ter me trazido um Rei Artur palatável, humano, frágil, mas, de uma personalidade utópica indescritível.... Um mundo onde vemos diferenças religiosas tão absurdas quanto ignorantes... Essa é a versão de Bernard Cornwell pra uma Britânia dividida entre a crença pagã e a adesão a um Deus único e inigualável que diretamente ou indiretamente nós reverenciamos. Um rei que buscava justiça e compreensão, mas, encontrou a maldição do ostracismo. Venham comigo e adentrem há um mero vislumbre das crônicas do Rei Artur.




Tudo começa com Derfel (lê-se Dervel) um mero assistente do Rei Uther (o rei de toda Britânia) que participa diretamente do nascimento de Mordred (sucessor legítimo de Uther). Numa data onde aproximadamente fazia quase 500 anos que Cristo tinha vindo a a terra. A Britânia era um reino dividido em pequenas facções que lutavam desesperadamente contra a invasão dos Saxões (digamos que estes eram os mais próximos do que temos dos alemães hoje). Quando não lutavam entre si.. Lembrando que a antiga dominação romana ainda era fresca na memória dos britânicos... tanto que a cultura romana tinha se arraigado ao dia-a-dia deles. O cristianismo prosperava como uma febre, mas mesmo entre os mais fervorosos cristãos a supertição estava impregnada.

Derfel conta como viu Mordred nascer, crescer e se tornar um rei. Artur é meio irmão de Mordred, embora seja um hábil guerreiro e um justo governador, este nega-se a assumir a coroa. Artur é racionalista, apegado aos juramentos que o obrigam a guiar Mordred ao trono....

Poderia fazer uma sinopse imensa, apaixonada e poética, citando Merlin, Morgana, Nimue, Cerdic, Aelle, Lancelot, Ceinwyn, Cuneglas, Galahad, Sansun e a rainha Igraine. Mas pra quê? Basta vocês saberem que esta trilogia tem a sutileza de um mundo onde a magia pode ser facilmente explicada por coincidências e temores humanos ou não.


Por quê você deveria se interessar? Ora uma narrativa apaixonante e nostálgica do nosso protagonista (Derfel). Todos os eventos são vistos a partir do futuro, onde Derfel está contando pra Rainha Igraine a história de Artur e montando um relato escrito desses eventos.

São tantos pontos interessantes. Como a (já mencionada) rixa entre o cristianismo e o paganismo... engraçado que o autor acaba mostrando equilíbrio não pendendo pra nenhum dos lados (embora em algumas partes pareça o contrário), pois no final das contas vemos que ambos podem ser extremistas, obtusos e cruéis. Como são adoráveis as mulheres dessa história, tendo uma personalidade que pendem entre a geniosidade e a ardileza, o encanto e a luxúria. As batalhas são um encanto à parte, cruéis e bem detalhadas, você vai sentir toda angustia de uma PAREDE DE ESCUDOS.

"O homem deve amar a paz , mas se não puder lutar de todo coração não terá paz" 
(Excalibur, pag 241)


 

E claro não poderia deixar de citar a ambientação. Ora, ora estamos no começo da idade média, e o que seria dela são tivéssemos pessoas com mínimo critério sobre higiene. Banho?! (pra alguns isso só ocorria uma vez só na vida)... Eram pessoas com piolhos, sem dente, com feridas tratadas com excremento (supertição lembra?)... e por aí vai...

Mas o que me chamou atenção mesmo é a personalidade de Artur, num mundo de extremos, ele era a voz da razão, um idealista que nunca quis ser rei, mas sim ter uma vida simples numa fazenda criando gado e forjando metal... ao lado de sua esposa. Um homem que pensava no bem maior ao ponto de sacrificar sua reputação e sua glória. Alguém apegado acima de tudo aos juramentos custe o que custar.

"De modo que o rei é o guardião de nossos juramentos, e sem um rei não há nada, a não ser um emaranhado de juramentos conflitantes. Sem um rei vem o caos. Todos os juramentos levam ao rei, Derfel, todos os nossos deveres terminam com o rei e todas as nossas leis estão sob a guarda do rei. Se desafiarmos nosso rei desafiamos a ordem. Podemos lutar contra outros reis, podemos até matá-los, mas só porque eles ameaçam nosso rei e sua boa ordem. O rei, Derfel, é a nação, e pertencemos ao rei..."
(O Inimigo de Deus, pag 327)

São 3 livros de um pouco mais de 500 páginas,

O Rei do Inverno
O Inimigo de Deus
Excalibur

Boa leitura pra vocês... Olha que eu nem contei nem a metade do que te espera, confesso que meus olhos "marejaram" várias vezes...

Obrigado Bernard Cornwell.




 E há um bom tempo atras fiz uma resenha sobre um outro dele, ambientado na idade do bronze da Britânia. Stonehenge (cliquena imagem pra ir direto ao post)...



4 comentários:

Anônimo disse...

Um dos unicos livros que eu gostei até hoje, sim eu sou um igOnorante.

Anônimo disse...

Cade o podcast?

Anônimo disse...

duvida: j'a fizeram algum filme baseado nesses livros, vou ler.

Renver disse...

Aqui um filme vagamente baseado nessa trilogia... Quiseram os direitos o autor negou aí fizeram esse filme genêrico:

http://pt.wikipedia.org/wiki/King_Arthur

Pessoalmente não achei um filme ruim (assisti lá em 2004) mas não tem nada de memorável.

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