terça-feira, 17 de setembro de 2013

Climatinê: Invocação do Mal por Corto

por
Corto de Malta

O diretor James Wan renova o gênero terror mesclando dois estilos narrativos: o que apenas sugere algo escondido no escuro e aquele que explode as trevas na sua cara quando menos se espera.
SPOILERS ABAIXO
Inspirado em fatos reais, Invocação do Mal conta a história de um casal, Roger Perron (Ron Livinston) e Carolyn Perron (Lili Taylor) e suas cinco filhas, que se mudam para uma fazenda em Harrysville nos Estados Unidos. Pouco a pouco cada um dos membros vai presenciar ou sentir na pele as estranhas manifestações sobrenaturais do local, marcado por vários tragédias e segredos no passado.


É quando aparece para ajudá-los outro casal: Ed Warren (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga), demonólogos famosos que estudam casos paranormais, como o da Boneca Anabelle. Mas nem mesmo eles estavam preparados para o que encontrariam em Harrisville.

Você vai ouvir muita coisa sobre os críticos desse filme tentando desvendar como algo tão recheado de clichês pode ao mesmo tempo agradar tanto o público e ainda ser um produto de tanta qualidade. Ou ainda reclamações de que o diretor mostrou demais etc. A verdade é mais simples do que parece: diferente de vários outros cineastas que trabalham com terror, James Wan sabe perfeitamente que está trabalhando com clichês e não subestima a inteligência de quem o assiste.


A boneca, o armário antigo, o porão escuro, a caixinha de música, o retrato na correntinha, corpos boiando no lago, passagens ocultas nas paredes, cordas de enforcados penduradas em árvores etc. Em nenhum momento ele trata o público como ignorante, como se nunca tivesse visto nada disso. Essa honestidade intelectual permite que ele esteja sempre um passo a frente das expectativas da platéia. Um exemplo é a construção da cena em que Brad (Josh Brotherton) persegue um dos fantasmas na lavanderia. Num filme qualquer seria uma cena qualquer. No contexto de Invocação do Mal, é um dos pontos altos da trama.

Isso porque James Wan sabe o valor da sutileza narrativa. Por isso primeiro ele constrói a sensibilidade do público para depois marcá-lo fundo. Na primeira parte da trama, vemos uma apresentação da dinâmica entre Ed e Lorraine paralelo a tensão crescente dos Perron descobrindo coisas estranhas na casa.


Neste momento Wan é um dos poucos cineastas que sabe que o som em um filme tem uma função muito valiosa e constantemente subestimada. Muito antes de vermos as coisas, nós as ouvimos e é isso o que insere o público na mesma condição dos personagens: a de sentir aquele arrepio na espinha provocado pelo desconforto de saber que algo está errado.

E aí vem a grande virada. Quando enfim o diretor mostra mais do que um bater de palmas fora de foco, acredite, ele não está fazendo isso pra abrir mão do horror psicológico em troca do susto fácil. Não. Ele faz questão que cada uma das aparições seja intensamente perturbadora. Inclusive usa a técnica do close-up sem nenhum receio de desgaste. Porque ele sabe que quanto mais sinistro for o que mostrar, mais a sensibilidade das pessoas vai temer que aquilo se repita.



No fim não existe um jeito certo e um jeito errado de contar esse tipo de história. Existem formas diferentes e o roteiro é inteligente ao saber mesclar isso. Por exemplo, primeiro ele prepara o terreno, não mostrando ao público o que uma das meninas vê no quarto e a outra não. Depois mostra um pouco mais no porão. E por fim quando estamos no completo suspense, o cineasta mostra o terror explicitamente em num outro aposento.

A parte da investigação paranormal também é muito bem amarrada pelo roteiro. Em vez de diminuir ou tentar explicar demais o filme, ela se concentra em acrescentar elementos que criam mais suspense ainda. Especialmente na questão da boneca - que nem precisaria entrar na história, mas que rende um dos momentos mais assustadores ao mais uma vez tirar o público da sua zona de conforto junto com uma das personagens.


Tudo isso é muito bem encaminhado até uma complexa cena final em que vários personagens se envolvem em situações diferentes e você sabe que é impossível prever o que ocorrerá a seguir. Afora algumas questões que se desconectam da história real (a sessão de exorcismo, por exemplo tem um final diferente do mostrado no longa metragem), James Wan conseguiu apresentar algo novo em meio a recursos antigos.

Mostrou que o terror explícito também pode estar a serviço do suspense e vice-versa. Talvez, especialmente com o sucesso de Invocação do Mal, ele tenha aberto um caminho, dando um sopro de criatividade no gênero, trazendo de volta um clima semelhante aos de grandes filmes de horror doa anos 70, como O Exorcista, Horror em Amityville etc.


Se for verdade que Wan de fato vai se aposentar do Genêro Terror - ele também fez o primeiro e melhor Jogos Mortais e Sobrenatural (cuja continuação também feita por ele deve chegar aqui em breve) - será uma grande perda.

Wan é um dos poucos hoje em dia realmente capaz de fazer a platéia saltar da cadeira... literalmente.

Um comentário:

L disse...

Pena que não pude ler, já que quero realmente ver este filme.

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