segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Climatinê: O Menino e o Mundo

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Toon Link

O Menino e o Mundo, longa de Alê Abreu, estreou esse ano e parecia ser mais uma peça no mercado da animação nacional, onde tentamos aos trancos e barrancos fazer um longa de animação funcionar e alcançar uma relativa popularidade e parecia ser uma animação para as crianças, mas não foi isso o que ele foi.


O filme primeiramente é de um primor tecnico inesperado. Seu estilo visual é inovador e mais do que isso, é imprescindível para a história que utiliza do máximo de seu formato de animação e tira um ótimo proveito disso.

O Menino e o mundo é um filme mudo que fala sobre a experiência de um garoto que sofrendo a falta do pai parte para explorar o mundo.


O longa já começa com uma abertura surpreendente, que se segue de uma próxima cena também surpreendente e já a partir desse momento inicial percebemos algo importante sobre esse filme, de que ele irá quebrar sua expectativa sobre o que ele de fato é, pelo menos mais algumas vezes.

O filme várias vezes aposta numa narrativa totalmente visual se tornando uma experiencia sensorial que chegou a me lembrar 2001 - Uma Odisséia no Espaço, o clássico da ficção científica de Stanley Kubrick, por às vezes se apoiar completamente no que é visto e esse visto ser uma viagem imprevisível, até por seu caráter de viagem lisérgica que fica claramente estampado desde a cena de abertura, e é uma forma brilhante de tratar a visão infantil de um mundo que está sendo descoberto a todo o momento.


Por mais que não possa parecer a quem ainda não conferiu, este longa de animação é mais um no hall de obras com uma espécie de mensagem política que sobrevoa toda a nossa produção cultural recente e tem em O Som ao Redor seu principal representante. São filmes que falam sobre o nosso sentimento de descontentamento em relação ao nosso meio estabelecido, de que estamos lutando por algo mesmo sem entender bem o porquê, de que nossa condição não nos satisfaz.

Seria uma mensagem bem séria em um filme infantil porque O Menino e o Mundo não é de fato um filme infantil embora possa ser visto por crianças, porque ele tem uma inteligência e uma sofisticação em tratar essas questões envolto em uma forma lúdica que é capaz de incluir o filme no hall de outras produções que mesmo sendo vendidas para o público infantil conseguem falar sobre questões sérias, mas que envolvem os juvenis, como é o caso de Ponte para Terabítia, por exemplo.


A sofisticação do filme continua em sua parte técnica, desde a sonora e musical indo do maravilhoso tema criado por Naná Vasconcelos até o rap na lingua desconhecida utilizada no filme criado por Emicida, até o excelente uso que o filme faz de signos visuais para auxiliar sua narrativa.

O longa marca um momento interessante da animação, onde as barreiras de quem tem ou não capacidade de produzir cada vez diminui com o maior acesso a ferramentas de produção. Não é mais necessário um grande estúdio especializado para que uma produção do tipo com qualidade profissional possa ser feita. Pode parecer bobo dizer isso em plenos anos 10 mas parece que só a pouco tempo estamos percebendo esse potencial em longas de animação que estão ganhando destaque, mesmo com a avalanche de animações 3D que criaram uma espécie de imagem de ser o padrão na indústria.


Este é provavelmente é o melhor longa de animação já produzido no Brasil, mas além disso é uma grande demonstração de que temos artistas que estão olhando além, de que não mais estamos só brigando por ter espaço e competir ou copiar as produções estrangeiras e vendê-las aqui a fim de movimentar a industria nacional e os profissionais pensando em um futuro promissor, mas que temos potencial de explorar uma ideia e contar sua história em seu potencial máximo, e de que podemos surpreender com isso. Fazer com o nosso jeito e seguindo nossa própria intuição.

O Menino e o Mundo é, acima de tudo, surpreendente. Uma surpresa inspiradora.

Ps: Não se surpreenda se ouvir falar sobre esse filme na corrida do Oscar, a recepção internacional está ótima. A imprensa estrangeira fala sobre essa possibilidade.


escala 'quero me surpreender': 8
escala 'quero esquecer os problemas da sociedade': 2
escala 'que bonitinho': 8
escala 'ANIMAÇÃO NACIONAL, CARAJO!': 10

Nota: 8






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